Os desafios da juventude

Conflitos familiares, dúvidas na formação acadêmica, dificuldade na carreira e envolvimento com drogas: conheça a história de quatro jovens que superaram estes dilemas

A transição para a vida adulta é um período intenso e, muitas vezes, conturbado. Conflitos com os pais, dúvidas sobre o próprio corpo, medo de não ter amigos e o desejo de independência são algumas questões enfrentadas pelos jovens. A insegurança e a impulsividade são comuns nessa época da vida, como explica a psicóloga Sylvia Flores. “O jovem é uma pessoa em formação, então ele ainda está absolutamente aberto às influências do meio, dos pais, do colégio, dos amigos, da igreja, da mídia. A dificuldade em avaliar a realidade faz com que muitos sejam inconsequentes”, diz a especialista, que atua como professora de psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, em Belo Horizonte (MG).
Além das mudanças típicas da idade, os jovens precisam enfrentar os primeiros dilemas nos estudos e na vida profissional. A taxa de desemprego da população de 18 a 24 anos alcançou 18,9% em janeiro – bem maior do que a taxa de desocupação geral de 7,6%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje, o Brasil tem 1,3 milhão de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola. E sem a conclusão do ensino médio, eles têm mais dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. A informação é do estudo Aprendizagem em Foco, feito pelo Instituto Unibanco com base em dados do IBGE.
Em meio a tantos desafios, qual é a melhor maneira de encarar a juventude? Sylvia Flores destaca que o jovem precisa de diálogo e acompanhamento. “O jovem precisa ser assistido, assessorado. Os pais precisam ser uma influência positiva na vida dos filhos.”
Força Jovem
Oferecer orientação espiritual, moral e profissional ao jovem é o objetivo do projeto Força Jovem Universal (FJU), que atende 200 mil jovens em todo o País. “São inúmeros os que chegam no vício, na marginalidade. Outros com problemas familiares e sem perspectiva de futuro. Na FJU, eles encontram apoio”, explica o coordenador nacional do projeto, Marcello Brayner. As atividades esportivas e culturais do grupo chegam a atingir 800 mil jovens.
Brayner diz que um dos maiores desafios do jovem é aprender a tomar boas decisões. “É necessário que o jovem veja que ele pode ser o ponto de mudança da própria vida e quem sabe de toda sua família por meio da mudança da sua própria mente.” Confira, a seguir, histórias de jovens que conseguiram superar alguns dilemas da juventude.
O trabalho dos sonhos
Com apenas 24 anos, Diego Mota é gerente de um banco em Sorocaba (SP). A trajetória profissional dele começou aos 17 anos, em uma padaria. Depois, ele se tornou estoquista em uma loja de varejo. Em sete meses, ele conseguiu uma oportunidade no departamento financeiro da empresa. “Lá, descobri que gostava da área. Decidi que queria trabalhar em banco e comecei a me preparar.”
Aos 20 anos, entretanto, o sonho quase foi destruído. “Em uma entrevista de emprego, a supervisora de um banco disse que eu não tinha perfil para a vaga e jamais trabalharia lá.”
Diego decidiu usar as palavras negativas a seu favor. “Trabalhei meu psicológico para me expressar melhor e controlar a ansiedade. Vi vídeos de especialistas em vendas, li alguns livros e estudei.”
Nove meses depois, ele foi aprovado em outra seleção do mesmo banco. “Comecei como caixa. Após seis meses, já liderava equipe e batia metas.” Às vésperas de concluir a faculdade de Comércio Exterior, Diego quer se aperfeiçoar para atingir novos sonhos. “No início, até minha família duvidou, mas sempre tive fé e acreditei em mim”, resume.
Amizades nocivas
Heli Barboza, de 24 anos, faz faculdade de logística, trabalha e tem muitos planos para o futuro. Porém, há quatro anos a situação era diferente. “Eu estava no fundo do poço. Só queria beber, curtir a vida, usar e vender drogas”, relembra.
Ele começou a usar maconha aos 14 anos, com amigos da escola. Pouco depois, aceitou o convite para vender drogas. “Eu via outros garotos com bicicleta melhor, moto, e queria aquelas coisas”, diz. Ele abandonou a escola aos 16 anos. “Fui me envolvendo cada vez mais. Cheguei a participar de furtos de veículos com colegas”, conta o jovem de Cândido Mota (SP).
Heli também se distanciou da família. O relacionamento com a mãe e os irmãos se resumia a brigas. “As coisas só mudaram quando uma vizinha me convidou para ir a reuniões da Universal.” Nos encontros, ele diz que reaprendeu a ser feliz sem drogas e sem bebidas. “Nem todos são amigos de verdade. A gente tem que saber distinguir o que faz bem e o que
faz mal.”
Esforço para estudar e trabalhar
Manoela Montino de Oliveira, de 21 anos, descobriu os primeiros desafios do mercado de trabalho ao tentar atuar como técnica em contabilidade, após fazer um curso na área. Ela tinha 18 anos. “Procurei muito, mas só consegui um trabalho como operadora de telemarketing.” Manoela, entretanto, não estava satisfeita. Por isso, ela pediu as contas e se matriculou na faculdade de ciências contábeis. “Queria crescer profissionalmente. Tinha guardado dinheiro, mas precisava encontrar outro trabalho para seguir com os estudos.”
Foram cinco meses de buscas, entregas de currículo e entrevistas. “Cheguei a ficar preocupada, mas coloquei na cabeça que tudo é possível. Era eu e Deus. Economizei, fiz bicos e vendi trufas.” As economias de Manoela já tinham acabado quando ela conseguiu uma vaga em uma empresa da área. Hoje, ela faz estágio em outra companhia e cursa o quarto semestre da faculdade. “A dica é não desistir nunca. Mas tem que correr atrás, não adianta só dizer que Deus vai dar. Eu acordava cedo, entregava currículo e estava sempre bem arrumada.”
Brigas em casa
 Ana Caroline Rodrigues, de 25 anos, (foto ao lado) teve uma adolescência marcada por brigas com a mãe. “Aos 14 anos, eu via minha mãe como uma chata. Eu ia muito pela cabeça de amigos, saía de casa sem avisar, queria curtir.”
A mãe da jovem cobrava explicações. “Eu gritava, xingava, ofendia minha mãe.” O diálogo entre as duas desapareceu e a tensão era constante.
Ana conta que costumava sumir de casa sem avisar, atitude que deixava a mãe preocupada e gerava brigas. “Um dia, minha mãe falou que estava cansada e disse que eu teria que procurar outro lugar para viver se continuasse a desrespeitá-la.” Aos 18 anos, ela saiu de casa e alugou um quarto de um amigo às pressas. Começou a trabalhar para pagar o lugar. “Foi difícil, eu não tinha nada. Refleti sobre o que havia acontecido e percebi que minha mãe se preocupava comigo. Antes, eu achava que sempre estava certa.”
Ana Caroline se casou, mas a união acabou após dois anos. “Procurei minha mãe e ela me apoiou. Voltei para casa aos 20 anos. Aprendi a respeitá-la.” Hoje, a moça é líder de um grupo de jovens do projeto Força Jovem Universal em Guarulhos (SP). “O jovem precisa conhecer as conse- quências de suas atitudes.”

Fonte: FOLHA UNIVERSAL

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