Más notícias da Cracolândia

O Estado de S.Paulo
14 Abril 2015 | 02h 04

A Cracolândia confirma o dito pessimista de que o ruim sempre pode piorar. Os vários programas lançados nos últimos anos para dar assistência aos dependentes que se concentram na região central da cidade que leva esse nome e induzi-los a deixar as drogas, por um lado, e para combater o tráfico que ali corre solto, por outro, produziram resultados decepcionantes, muito distantes das promessas das autoridades tanto municipais como estaduais. Más notícias não faltam, sendo a última delas a chegada ali de uma nova droga - a heroína, tão devastadora como o crack.


Segundo reportagens da TV Globo e do jornal Folha de S.Paulo, a Polícia Civil fez há pouco a primeira apreensão dessa droga - 88 gramas - na Cracolândia, trazida por dois traficantes africanos vindos da Tanzânia, que foram presos. A quantidade é pequena, mas especialistas alertam que uma pedra de heroína menor do que um grão de arroz, misturada com crack, basta para causar dependência. Além disso, a polícia acredita que esse não é um caso isolado, mas parte de uma tentativa em curso dos traficantes para difundir o consumo dessa droga na região.

Segundo o delegado Alberto Pereira Matheus Júnior, do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), para popularizar essa droga no Brasil, traficantes nigerianos e de outros países africanos vendem heroína a preço bem mais baixo do que o praticado na Europa e nos Estados Unidos. Eles levam cocaína para a Europa, passando pelo Brasil, e trazem para cá heroína do Paquistão, do Afeganistão e uma parte da Colômbia. O delegado levou o caso ao conhecimento da Polícia Federal, do Ministério Público e da Prefeitura e sugere uma ação conjunta deles com o governo do Estado para tentar evitar que a droga se espalhe.

Outra má notícia é que a favela formada na Cracolândia com pequenas barracas na Alameda Cleveland e Rua Helvétia está se expandindo, o que é claro sintoma do agravamento da situação. Não por acaso, a secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, usou palavras fortes para descrever o que está acontecendo ali: "Houve um descontrole do território, a situação degringolou. Isso não significa descontrole do Braços Abertos" (programa por ela dirigido, que presta assistência aos dependentes, oferece-lhes quartos em hotéis e lhes paga R$ 15 por dia por serviço de limpeza de ruas). Segundo ela, houve redução do efetivo da Polícia Militar (PM) na Cracolândia. Essa seria, portanto, uma das razões do descontrole.

Em primeiro lugar, mesmo que o descontrole não atinja o Braços Abertos, como ela pretende, a situação desse polêmico programa está longe de ser boa. Prova disso é o estado dos hotéis que abrigam os dependentes de crack. Suas condições de higiene são precárias e eles foram depenados pelos dependentes que roubaram tudo que podia ser vendido para comprar droga - de chuveiros a batentes de portas, passando por fiação elétrica, roupa de cama e vasos sanitários.

Quanto ao efetivo policial presente na região, a Secretaria da Segurança Pública assegura que ela é "uma das mais bem policiadas do Estado", que no ano passado foram presas 378 pessoas e que a PM apoia a ação dos agentes sociais e de saúde.

Nesse caso, nenhuma das partes deveria jogar a culpa sobre a outra. Se a Cracolândia é uma das áreas mais bem policiadas do Estado, como explicar que o tráfico de drogas ali corre solto, dia e noite, à vista de todos? Mas dizer que a situação escapou ao controle, degringolou, por culpa da polícia é uma simplificação que deforma a realidade, não corresponde aos fatos, embora convenha aos interesses da Prefeitura.

Todos estão a dever uma ação mais efetiva na Cracolândia nos dois lados do problema - o da assistência social e médica aos dependentes para levá-los a se tratar e o da ação policial de combate ao tráfico. As deficiências e limitações do Braços Abertos e a desenvoltura dos traficantes, que já ensaiam a introdução ali da heroína, são bons exemplos disso. E indicam a urgência de repensar a fundo a questão.

 

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